Fogo, bombas de gás e depredação marcam suspensão de sessão do Plano Diretor em SP

Aproximadamente dois mil trabalhadores sem-tetos tiveram um verdadeiro dia de apreensão e posterior batalha pelas ruas do Centro de São Paulo, nesta terça-feira, 29. Após esperarem por mais de 4 horas a votação que poderia levar a primeira aprovação do texto do Plano Diretor, um grupo de manifestantes entrou em confronto com a Polícia Militar por volta das 17h30.

O ato teve início às 13h45, na Praça da República, quando os sem-tetos, em sua maioria pertencentes ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente de Luta por Moradia (FLM), caminharam em direção à Câmara dos Vereadores. Por conta do bloqueio momentâneo da Avenida São Luis, e do fechamento total do Viaduto Jacareí, as ruas do Centro tiveram recorde de congestionamento, travando o trânsito local. Mesmo com um sol forte, era possível ver mulheres com crianças de colo e muitos casais de idosos. Por conta da expectativa em se aprovar o Plano Diretor, que passará a controlar o zoneamento da cidade nos próximos 16 anos, o clima era da paz entre os participantes, que vez ou outra entoavam seus cânticos tradicionais.

Com o cair da tarde, e algumas informações desencontradas sobre o que acontecia de fato dentro do plenário, os ânimos ficaram exaltados. Do alto do carro de som, uma das líderes pediu para que os presentes chegassem mais próximos ao portão, que já havia sido fechado assim da chegada da marcha. Um telão que transmitia a movimentação dentro da Casa teve o som cortado, bem na hora que, a liderança informava que a sessão havia sido suspensa a pedido dos vereadores. Logo após a fala, o clima virou, alguns militantes passaram a arremessar latas de cerveja, garrafas de água e pedras contra a entrada da câmara, que já contava com ao menos 10 guardas civis metropolitanos (GCMs) e um mesmo número de policiais militares.

Do lado de fora, de forma muito rápida, uma estrutura com ao menos 20 pneus ardia em fogo. Com a chama muito alta, pedras foram arremessadas contra o prédio e, mesmo com os pedidos de liderança para que se parasse, o barril de pólvora já estava armado. Uma formação de oito PMs veio da Rua Santo Antônio e começou a disparar bombas de efeito moral, que, com o forte estrondo e o gás lacrimogêneo encurralou mulheres e crianças, que subiam a Rua Santo Amaro desesperadas. Um grupo resolveu enfrentar os PMs, colocando fogo em banheiros químicos e lixeiras, além de conseguir quebrar algumas vidraças do primeiro e segundo andar da Casa. O reforço da PM chegou rápido e, os viadutos Jacareí e Dona Paulina viraram uma verdadeira praça de guerra. Enquanto mais bombas eram lançadas, mais focos de incêndio eram vistos. Placas de sinalização foram derrubas.

A situação só se normalizou às 18h20, quando ficou acertado com as lideranças que a marcha seguiria até a Praça da Sé. Já no local, cerca de 1h40 depois, os sem-tetos resolveram voltar até a Câmara dos Vereadores, desta vez escoltados por um verdadeiro batalhão de PMs, cerca de 200, munidos de capacetes e escudos. Por volta das 22h, quando a reportagem do Infodiretas deixou o local, era visível os rastro de uma verdadeira praça de guerra, com muitas pedras na via, além de caminhões da prefeitura limpando o que restou dos objetos queimados. Cerca de cem moradores sem-tetos montavam barracas para passar à noite no local, já que a sessão do Plano Diretor deve ser retomada às 10h desta quarta-feira, 30.