Vindos da Vila Calu, do J. Aracati, Campo Limpo e Capão. Conheça os moradores da Nova Palestina

Há uma infinidade de barracos construídos com lonas pretas, azuis e amarelas, tudo bem preso a pedaços de bambu, fincados no solo ralo de terra batida. Como na madrugada alguns acordaram e outros nem foram dormir para percorrer durante o ato por melhores condições na ocupação Nova Palestina e também por projetos sociais que atendam famílias de forma mais rápida, a maioria descansa por volta das 10h30. Após rodarmos por algumas vielas, encontramos nossos primeiros personagens, eles estão na cozinha do G1. Enquanto três mulheres cozinham, quatro rapazes jogam dominó.

cheCom uma camisa vermelha com o rosto de Che Guevera (político, jornalista, escritor e médico, nascido na Argentina, mas radicado em Cuba, e idealizador da revolução de tal país), está Adalgisa Sales, de 62 anos. Naquele momento ela está cozinhando para todos os moradores do G1. No acampamento, é regra, que cada um se alimente apenas na cozinha respectiva a onde está seu lote. Adalgisa, que é artesã, possui casa e está ali como voluntária, pois segundo ela, “muitos que estão ali precisam de ajuda”. “Moro em Embu das Artes, e exponho meu trabalho na feira de Embu, tenho minha renda”. Ainda segundo a artesã e cozinheira da Nova Palestina, por dia sua “população” consome 5 quilos de arroz, 3 quilos de feijão, cinco pacotes de macarrão e seis pé de alface. “Em média são 300 pessoas”.

Ao ser perguntado sobre a origem das pessoas que ali habitam, o coordenador geral da ocupação Nova Palestina, o militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto Zezito Alves alega que vieram de regiões próximas, como a Vila Calu, o Jardim Jacira, Jardim Nakamura, e alguns bairros próximos à divisa com Embu-Guaçu, além do Jardim São Luis, Campo Limpo e Capão Redondo.

Um pouco mais à frente, participante de outro grupo, o G2, está uma família completa, pai, mãe e três crianças pequenas, que estavam prestes a serem despejados de onde moravam. familia (800x476)Rodrigo, de 30 anos, veio com a esposa Tatiana e os filhos Amabilly, de 6 anos, Nicolas, de 4, e Luyz Felipe, de um ano e meio, do bairro Cidade Ipava, no Jardim Aracati, a cerca de 3 quilômetros mais à frente à ocupação. O auxiliar de almoxarifado conta que sofreu um AVC, e como sequela tem paralisia em parte do lado esquerdo do corpo. Com a renda reduzida, acabou por atrasar o aluguel da casa, tendo sido avisado que deveria deixar o local com sua família. Por conta da mobilidade reduzida, sua esposa acabou por ir ao ato que paralisou a Marginal Pinheiros sozinha, enquanto Rodrigo ficou com às crianças. “Se não precisa-se, não sairia às 3h de casa”, diz Talita. Já Rodrigo disse que espera uma ajuda de quem realmente pode. “Uma colaboração dos fortes, de quem realmente tem o poder na caneta. Vamos continuar na luta”, conclui.

DSCF0824 (800x451)Ainda no G2, encontramos a dona de casa Aparecida Alcantara, de 35 anos, junto a seu filho Reynan, de 8 anos. Segundo ela, os dois moravam de favor, e sua chegada se deu um dia após a ocupação, no dia 30 de novembro. A mãe conta que, o menino tem um câncer raro, sem cura e que por conta da doença já perdeu um rim e utiliza um aparelho no peito. Segundo a mãe, Reynan faz tratamento no Graac. O desejo de Aparecida, é ter “uma casa digna”.

*Esta matéria encerra a série de cinco repotagens sobre a ocupação Nova Palestina, no Jardim do Lago, região do Jardim Ângela, na Zona Sul. O Infodiretas agradece ao MTST, ao coordenador Zezito, ao Dez Reais e a todos os moradores que abriram suas casas e que mostraram como é viver ali.