El Niño: chegada do fenômeno pode trazer grandes mudanças no clima

Ondas de calor na Europa, fortes chuvas na Califórnia e secas extremamente prejudiciais às safras do Brasil e da Indonésia. Esse é o cenário esperado por cientistas para 2023, por mais que haja cautela na avaliação e incerteza sobre sua concretização.

O motivo disso tudo é a desaceleração dos ventos sobre o Oceano Pacífico, evento típico dos anos em que todo o planeta está sob efeito do El Niño. Um estudo, ainda não revisado por pares, aponta que há 90% de chances do clima quente tradicional do fenômeno retorne neste ano.

Josef Ludescher, do Instituto de Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam, na Alemanha e autor do estudo estima uma moderada à forte elevação das temperaturas. Números em torno de 1,5ºC.

Os padrões climáticos frios estabelecidos há cerca de três anos com a chegada da La Ninã serão interrompidos neste ano.

“O El Niño é responsável por muitos extremos. […] Todos os países, de uma forma ou outra, são afetados”, afirmou Regina Rodrigues, oceanógrafa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) à Deustche Welle.

Como funcionam os fenômenos

Ambos os eventos, El Niño e La Niña, são complexos padrões estabelecidos a partir do movimento dos ventos no Oceano Pacífico e que são observadas em três fases. Considera-se a fase neutra uando os ventos sopram do leste para o oeste. O El Niño paralisa ou desacelera esse padrão e a La Niña o intensifica.

De forma didática, pode se considerar o Oceano Pacífico como uma banheira de água fria próxima a um ventilador soprando em suas torneiras. Quando se abre a torneira de água quente, o ventilador joga esse fluxo para o fim da banheira. Esse padrão é observado em anos normais da América do Sul com sentido à Ásia.

O El Niño funciona como uma pausa nesse processo no Pacífico, oceano que cobre um terço da Terra. Ainda seguindo o exemplo anterior, as águas de temperatura mais quente se concentram no meio da banheira.

Levando o exemplo para a realidade do globo terrestre, a água parada seria o oceano na região mais próxima à América do Sul. O fenômeno concentra nuvens no local que não são esperadas.

Erin Coughlan de Perez, autora do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pesquisadora do Centro Climático da Cruz Vermelha, ao comentar sobre a situação exemplifica: “De repente, há grande quantidade de chuva perto da costa do Peru […] São despejos de água sem precedentes num local que costuma ser bastante seco”.

Todo o fenômeno se estende pelo Norte para todo o globo, alterando correntes de ventos que se movem mais próximas às superfícies.

Mudanças climáticas

O IPCC não considera de muita confiança os efeitos do aquecimento sobre os padrões típicos tanto do El Niño quanto da La Niña.

Apesar disso, o painel considera que os eventos extremos serão intensificados à medida que as temperaturas globais subam.

Com a queima de combustíveis fósseis, a humanidade já conseguiu subir em 1,2ºC a temperatura da Terra desde a ascensão da Revolução Industrial.