Alta no valor do aluguel e investimentos do governo no Itaquerão faz “Copa do Povo” crescer

Enquanto o trânsito no entorno da Arena Corinthians ou Itaquerão está infernal, confuso por conta das obras de um anel viário, cerca de cinco quilômetros mais à diante, mais precisamente na Rua Malmequer do Campo, num terreno particular bem em frente ao Parque do Carmo, no Jardim Gleba do Pêssego, por volta de 400 pessoas trabalham de forma incansável para montar as barracas que servem de moradia na mais nova ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Paulo, a “Copa do Povo”. O nome escolhido por quase duas mil pessoas, de acordo com a liderança, tem alusão ao fato, de o primo rico estar em evidência, pois em 12 de junho vai sediar a abertura da Copa do Mundo no Brasil no embate entre a seleção brasileira e a Croácia.

Sob um sorte forte de 28°C, a reportagem do Infodiretas chegou ao local às 13h desta segunda-feira, 5. Muitas crianças corriam de um lado ao outro, mulheres fincavam a enxada e abriam buracos para estocar mais um pedaço de bambu, enquanto homens ajudavam no levante do acampamento, que teve início na madrugada do último sábado, 3. A maioria dos novos habitantes são vizinhos do entorno do Parque do Carmo e do Itaquerão, vindos de bairros como o Jardim Helian, Jardim Cibele e Gleba do Pêssego. No primeiro dia 300 famílias estavam no terreno, nesta segunda-feira, 1.500, de acordo com o MTST.

A maioria dos ocupantes reclama o preço alto do aluguel, que inflacionou devido ao novo empreendimento da região, o estádio do Corinthians. Com nome em homenagem a um ídolo alvinegro, o frentista noturno Roberto Rivelino Duarte, de 47 anos, indaga a reportagem perguntando: copa para quem?. “Estou em busca de moradia digna, quero o que está na constituinte. Gastam horrores para agradar aos gringos e estamos no caos”, conclui. Duarte conta que mora em uma casa simples, de dois cômodos, com mulher e dois filhos, de 14 e 10 anos, e paga R$ 350, mas que deve aumentar para R$ 600. O ponto do terreno em que o frentista montava seu barraco é de difícil acesso, bem no alto da ocupação Copa do Povo. “[Presidenta] Dilma lembra dos pobres. Lembra do seu discurso voltado ao povo. Era só tirar 1% da Copa do Mundo e investir em moradia e educação”, finaliza.

Segundo Maria das Dores Cerqueira, de 44 anos, uma das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto presentes no local, está ficando insustentável pagar aluguel e comer. De voz mansa e fala clara, ela conta que a ocupação ainda está se massificando e que deve chegar mais gente. “Famílias que pagavam R$ 300, hoje pagam R$ 700 de aluguel, assim como quem pagava R$ 400 paga R$ 900. Ainda segundo ela, na terça-feira, 6, está agendada a demarcação dos lotes, assim como é feita na ocupação Nova Palestina, no Jardim Ângela, Zona Sul da capital, considerada a maior da história de São Paulo.