Costumes do RS que só os gaúchos entendem; você concorda?

O Rio Grande do Sul é uma região rica em tradições e costumes únicos, que muitas vezes são difíceis de entender para quem não é natural do estado. Desde a celebração da Semana Farroupilha até as festas de rodeio, a cultura gaúcha é repleta de particularidades que encantam e intrigam pessoas de outras regiões do país. 

Pensando nisso, a Revista Exame em parceria com o Bradesco, patrocinador da Semana Farroupilha, compilou uma lista que destaca algumas dessas peculiaridades culturais que só os gaúchos entendem. Você concorda com esses costumes do RS que são tão característicos? 

Bah e Tchê não significam a mesma coisa

“Bah” é quase um suspiro que, dependendo da entonação, pode expressar praticamente qualquer sentimento: decepção, alegria, espanto, medo, admiração ou raiva. Já o “tchê” é uma interjeição exclamativa para chamar a atenção de alguém. Alguns acreditam que “tchê” significa “cara”, mas na verdade é muito mais forte que isso: “tchê” quer dizer “bah, cara!”. 

Além disso, vale destacar o uso do “tri”, uma versão minimalista, adaptada pela geração Y, do antigo “tri legal”, que caiu em desuso nos anos 90. É importante mencionar também o uso da palavra “capaz”: o ponto de exclamação “capaz!” significa “não precisa” ou “não se preocupe”. Já “bem capaz” significa “não” e “capaz que não” significa “sim”.  Faz sentido?

 O chimarrão é amargo e pelando de quente mesmo

Não dá para tomar só um gole e coloque açúcar, tá bom? E nunca mais diga “bárbaro”! Os índios Guarani e Caingangue usaram as esteiras no século XVI, sem saber que estavam criando uma tradição gaúcha. 

Tudo começa no preparo: o anfitrião recolhe o tipo em uma cabaça com ervas e água quente, mas não ferve. Servir abaixo de 80 graus é o ideal para não amargar a bebida. Depois, o anfitrião bebe primeiro e depois compartilha com amigos e familiares, respeitando a ordem original. É um ritual de amizade e camaradagem que se repete em grupo ou quando se recebe convidados. Se fizer algo fora do roteiro, ouvirá “tchê!” com julgamento.

Curtir o inverno é lagartear comendo bergamota sem atucanação

Em tradução livre do gauchês, é o mesmo que deitar-se ao sol comendo tangerina sem preocupação. Algumas expressões gaúchas podem soar indecentes, como “cacetinho” e “rabo quente”, que inocentemente significam pão francês e aquecedor de água. No Rio Grande, doce de leite é chamado de “mumu”, geleia é “chimia” e “chocolatão” refere-se mais ao mar de Capão da Canoa do que a um chocolate grande. Uma vitamina de frutas é uma “batida de frutas”. E um acidente de carro é uma “pechada”. Algumas palavras do dicionário riograndense têm origem no espanhol, como “pechar”, que vem de “pecho”, ou seja, “colidir com o peito”.

Todo mundo (ao menos acha que) já viu o Cigano Igor

Você não é um verdadeiro porto-alegrense, a menos que tenha visto Ricardo Macchi em algum lugar pela cidade. O ator, famoso por seu papel em Explode Coração (1995), ainda é uma figura icônica na capital gaúcha. É como se ele fosse um requisito para se ter a verdadeira experiência porto-alegrense, assim como cruzar com Woody Allen é para ser considerado um verdadeiro nova-iorquino, como mostrado na série How I Met Your Mother.

Nem toda carne é considerada carne

Você vai a uma lancheria e pede um pastel sem carne. O garçom sugere um de frango e você reforça: “sem carne”. “Temos de presunto e queijo, serve?”, ele insiste. Não duvide: isso pode acontecer. Para os gaúchos, só é considerado carne aquilo que pode ser pedido mal passado, sangrando – o que exclui presunto, salame, frango, salsicha… Até mesmo o feijão comum do dia a dia tem cara de feijoada no Rio Grande do Sul, já que costuma vir com carne.

 Em 2012, uma pesquisa do Target Group Index do IBOPE Media concluiu que Porto Alegre é a capital com o menor índice de vegetarianos do Brasil (cerca de 6% da população é vegetariana, contra 8% da média nacional). Embora o estado não seja o lugar mais propício para quem não come carne, a situação tem melhorado nos últimos anos, com a diversificação dos cardápios e o aumento de feirinhas e festivais veganos nas principais cidades.

Gaúcho esquece dos plural

Às vezes é inevitável, mas é parte do encanto. Em certas áreas, antes de fazer um churrasco, costuma-se ir ao supermercado para comprar algumas carnes e cervejas. E pagar tudo com a nossa moeda local, o “pila”, que não tem forma plural.

Expressões e ditados gaudérios enriquecem qualquer conversa

Expressões típicas do Rio Grande do Sul incluem “frio de renguear cusco”, que significa muito frio, “me caiu os butiá dos bolsos”, que significa surpresa, choque, e ditados como “se fazer de leitão vesgo para mamar em duas tetas”, “mais contente que lambari de sanga” e “mais firme que prego em polenta”.

Outra expressão comum é “moral de cueca”, que significa dar uma lição de moral sem ter autoridade para isso, mas não deve ser confundida com “cueca virada”, um doce feito de farinha, ovos e açúcar.

X-coração é um patrimônio valioso

O “pão de xis” não é um sanduíche nem um hambúrguer, não adianta insistir. Ele é diferente, mais massudo, e vai prensado com o recheio de escolha. O de coração de galinha é bem tradicional, mas também há opções como estrogonofe, filé à parmegiana ou o famoso “entrevero”, que leva basicamente todas as carnes disponíveis no cardápio.

Acredite, cuca de mumu com linguiça é uma ótima combinação

A gastronomia do Rio Grande do Sul é uma mistura deliciosa da culinária italiana e alemã, trazida pelos colonizadores no século XIX. Com mais de três milhões de descendentes italianos no estado, não faltam opções de massas, pães, polentas e cucas para degustar. Entre as especialidades estão o capeletti in brodo e o tortéi de abóbora. Já as cucas alemãs com farofa doce e geleia são um destaque, sendo consumidas durante a refeição e acompanhadas de linguiça.

Pode falar mal do Rio Grande, desde que seja gaúcho

Sites de humor adoram brincar com o orgulho que os gaúchos têm de seu Estado – e isso é permitido, desde que seja feito por sites locais. Mas só gaúchos podem zoar outros gaúchos. O humorista Jair Kobe, criador do personagem Guri de Uruguaiana, é o campeão dessa zoeira. O Guri é um personagem exagerado que ironiza os estereótipos do gaúcho da fronteira. Desde 2008, Kobe excursiona pela região Sul com a mesma apresentação, fazendo apenas algumas adaptações, e sempre lotando teatros.

A fama do Guri de Uruguaiana aumentou ainda mais quando Kobe começou a fazer paródias musicais há alguns anos. A primeira foi uma versão de Help, dos Beatles, com a letra de Canto Alegretense, uma famosa canção gaúcha dos anos 1980 escrita por Nico e Bagre Fagundes. Os últimos trabalhos do personagem incluem Aipim Frito, uma versão do hit latino Despacito, que narra um drama na churrascaria, e 50 reais, uma paródia da canção de Naiara Azevedo com Maiara e Maraisa, em que ele conta sua decepção ao flagrar um mate sendo mal feito.

Imagem: Divulgação / TV Globo