Famoso glaciologista revela preocupação com o estado do Rio Grande do Sul

Jefferson Cardia Simões, especialista e referência mundial no estudo de testemunhos que a história deixa no gelo, afirma ter preocupação com uma nova geração de cientistas brasileiros que desconsiderem seu legado em pesquisas relacionadas à Antártica.

Simões, primeiro brasileiro a ser treinado para o programa no continente gelado, foi reeleito como vice-presidente do Scientific Committe on Antartic Researh (SCAR), parte do Conselho Internacional para Ciências (ICSU, na sigla em inglês), ele é ainda hoje vice-pró-reitor de Pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em entrevista ao portal GaúchaZH reproduzida abaixo, Simões discorre sobre sua missão mais recente, a importância do continente para o planeta e como as mudanças climáticas o afetarão.

Jefferson Cardia Simões, especialista e referência mundial no estudo de testemunhos que a história deixa no gelo, afirma ter preocupação com uma nova geração de cientistas brasileiros que desconsiderem seu legado em pesquisas relacionadas à Antártica.

Simões, primeiro brasileiro a ser treinado para o programa no continente gelado, foi reeleito como vice-presidente do Scientific Committe on Antartic Researh (SCAR), parte do Conselho Internacional para Ciências (ICSU, na sigla em inglês), ele é ainda hoje vice-pró-reitor de Pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Selecionamentos abaixo trechos de maior relevância da entrevista concedida ao portal GaúchaZH abaixo. Simões discorre sobre sua missão mais recente, a importância do continente para o planeta e como as mudanças climáticas o afetarão.

Inicialmente questionado sobre a importância da Antártica, Simões a compara aos trópicos na questão climática: “Se formos para a Antártica e examinarmos o papel que ela tem dentro do ambiente brasileiro, vamos ver que ela é responsável pelas frentes frias que chegam aqui (no Brasil). O pessoal esquece que essas frentes frias que vêm do oceano Austral, ao redor da Antártica, chegam até o Acre. Há 40 anos não se sabia, mas hoje sabemos que está relacionado com a variação do mar congelado ao redor do continente antártico. Temos o continente, que é o centro, e ao redor há um cinturão de mar congelado que pulsa entre o inverno e o verão. Este é o fenômeno ambiental de maior variação sazonal do mundo. O cinturão de mar congelado ao redor da Antártica vai de 2 milhões a 20 milhões de quilômetros quadrados, quase três vezes a área do Brasil, no oceano Austral, ou Antártico.”

O pesquisador destaca ainda que no Programa Antártico Brasileiro, o Proantar, as mudanças climática global é essencial. Além disso, o Brasil é um dos 29 países com direito a voto no Tratato da Antártica, regime jurídico especial para a tomada de decisões político-climáticas.

Ao comentar sobre a missão no interior do continente recentemente finalizada, Simões afirma que: “Ao longo de 36 dias, ficamos acampados e enfrentando temperaturas de até -24°C e nevascas. Foram realizadas investigações sobre a história do clima, com coleta de amostras de neve e gelo precipitadas ao longo dos últimos 400 anos e medições sobre a resposta das geleiras às mudanças do clima.”

Consequências para o RS

Ao falar da situação no estado, Simões não esconde seu pessimismo. O principal destaque negativo que faz dis respeito ao atraso do estado em se antecipar aos efeitos iminentes do aumento do nível do mar no próximos 30 ou 80 anos.

Especificamente sobre a questão hídrica, comenta: “Temos de pensar que a geração dos meus netos viverá em um Rio Grande do Sul 2°C mais quente, ou mais, com uma distribuição de precipitação diferenciada. É preciso entender que, a partir de agora, os recursos hídricos podem ser limitados, pois não são infinitos. O Brasil tem o maior superávit hídrico do mundo, mas isso não é distribuído homogeneamente e mudará conforme essas mudanças climáticas.”

Finalizando a entrevista, Simões traça um cenário um tanto desanimador quanto ao futuro da ciência no Brasil. Ele considera os valores das bolsas de pós-doutorado muito baixos e isso, acrescentado da propaganda negacionista do governo anterior, culpados pela fuga de cérebros no país, nos deixando reféns da produção científica de brasileiros que não pesquisam mais em território nacional.