Sem ônibus, amigas saem do trabalho, participam do protesto e vão a pé para casa

Com a passagem de milhares de manifestantes por diversas vias importantes de São Paulo, na noite da última segunda-feira, 17, a CET registrou 129 quilômetros de lentidão na cidade. Vias como a Brigadeiro Faria Lima, Morumbi, Presidente Juscelino Kubitschek e Brigadeiro Luis Antônio, tinham uma fila de ônibus e carros que esperaram por vários horas para voltar a se locomover. No cruzamento da Juscelino com Avenida Santo Amaro, sentido centro, no Itaim, zona Sul, um motorista da linha 5111, Terminal Santo Amaro – Parque Dom Pedro II, era o primeiro da longa fila que se formou na região. Descontraído buzinava e atendia aos gritos dos manifestantes. Assim que os populares avistavam motoristas e cobradores, entoavam o grito de protesto, ” ô motorista, ô cobrador, me diz aí, se o seu salário aumentou?”, com muitos fazendo o sinal de negativo, com o dedo polegar pra baixo. No começo da subida da Brigadeiro Luis Antônio, o ônibus parado era um bi-articulado da linha 475R – Terminal Parque Dom Pedro II – Jardim São Savério, o motorista descia à via, em direção ao bairro da zona Sul, quando manifestantes começaram a chegaram aos montes e interromperam o trajeto. Sem tem o que fazer, o ônibus foi desligado, cerca de dez passageiros ainda aguardavam dentro do coletivo.

Dou outro lado da Avenida Paulista, a Brigadeiro Luis Antônio era quase deserta, os poucos que ali se concentravam buscavam condução para casa ou paravam nos bares abertos. No sentido bairro, diversos ônibus estavam parados (como pode-se ver na foto), no sentido centro, a via estava interditada para passagem de veículos. Enquanto uma grande parte dos manifestantes estavam sentados bem no cruzamento da Paulista com a Brigadeiro, duas amigas desciam sentido centro. Luisa, 26 anos e Marcela, 31, disseram para reportagem que estavam no trabalho, na região do Jardim Paulista, e como o trânsito estava fechado para veículos, concordaram em participar do protesto e seguir a pé até suas casas, próximo dali, na região da Bela Vista. Já o taxista Roberto Carlos, com 40 anos de profissão, tinha seu táxis parado junto a diversos ônibus. “Hoje está bom, estou ganhando dinheiro. Trouxe um passageiro de São Bernardo do Campo”. Segundo ele, o passageiro é seu conhecido e tem três faculdades. Com o taxímetro ligado, esperava o “passageiro-manifestante” retornar ao seu carro. Mesmo parado naquele local, ainda fez uma brincadeira, “põe aí na matéria que tenho o nome do rei”, em referência ao cantor de MPB, Roberto Carlos.

Foto: Tico Neves/Infodiretas
Foto: Tico Neves/Infodiretas