O perfil dos mortos no Carandiru: Jovens, primários e com pena vencida

A maioria dos apenados mortos na Casa de Detenção havia nascido em São Paulo e no interior do estado mais rico do país. Muitos outros, por diversos estados do Brasil. Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além alguns, que não a região sudeste, onde cumpriam suas penas. O perfil das vítimas demorou-se a ser traçado, já que a listagem oficial dos mortos saiu apenas na metade da semana posterior à ação policial. Segundo publicação do jornal Folha de S. Paulo, em 8 de outubro de 1992, 42 detentos tinham como local de nascimento a capital paulistana, 14 eram oriundos de cidades do interior. Da região nordeste, nove haviam nascido nos estados da Bahia e Pernambuco, e ao menos um, João dos Santos, no Piauí. De 104 mortos, 84, ou seja, 80% ainda não tinham penas definidas e aguardavam a seus julgamentos presos. Quase metade tinha menos de 25 anos. Doze presos tinham menos de 21 anos de idade e 39 entre 22 e 25. Ainda entre os mortos, um sofrimento duplo para a família paulistana Marques. Dois irmãos, Valdemir Marques dos Santos, 24, e Claudemir Marques, 23, acusados por 12 roubos e dois homicídios foram mortos. Suas penas seriam cumpridas no longínquo ano de 2058, mas ambos eram exceções naquele pavilhão, que reunia em sua maioria réus primários.

Entre os registros de identificação, pessoas com primeiro nome José – uma ironia, já que entre os Pm´s, os detentos são chamados de “Zés” – lideram a lista das vítimas, são 16, entre José Carlos, José Cícero, José Elias e José Pereira. Outro destaque são os sobrenomes, ou nomes terminados com o hoje famoso “Silva” e “Santos”, somados estavam no nome de 43 homens do Pavilhão 9, sendo 26 e 17 respectivamente, como Geraldo da Silva, Mamede da Silva e Stafano Ward da Silva Prudente, além de Juares dos Santos, Nivaldo de Jesus Santos e Vivaldo Virgulino dos Santos.

Um dado relevante que merece destaque, e que frequentemente é reclamado por familiares de presidiários, entidades de direitos humanos e advogados é o vencimento da pena, sem a libertação do sentenciado, exatamente o que ocorreu com Osvaldino Pereira Flores, baiano, segundo seu prontuário no sistema prisional, deveria estar solto, sua pena de dois anos e oitos meses havia vencido dois anos antes, em 1990. Morreu com tiros no ombro esquerdo, justamente no dia em que completava 37 anos, em 2 de outubro de 1992.