Polonês vira língua cooficial de cidade do Rio Grande do Sul

Desde o dia 22 de julho deste ano, Áurea, na região do Alto Uruguai, estabeleceu o polonês como idioma cooficial da cidade. O pequeno município do Rio Grande do Sul fica a mais de 350 km de Porto Alegre e a 11 mil km da Polônia.

Porém, mais do que uma decisão da Câmara de Vereadores, o polonês está no currículo escolar do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e é ensinado por professores voluntários no turno da noite aos interessados em aprendê-lo ou aprimorá-lo. Cerca de 90% dos habitantes são descendentes diretos de poloneses.

A adoção do idioma é vista como uma espécie de retribuição dos 3.517 habitantes da cidade aos esforços imprimidos desde que 12 famílias chegaram à localidade no início do século passado.

“A Polônia mal existia à época. Era uma terra de ninguém dividida por três impérios [Prússia, Império Russo e Áustria] e as pessoas mais pobres trabalhavam em troca de comida. Aqui não foi muito diferente, vieram pela promessa de um lote de terra, mas, fora isso, receberam apenas alguns mantimentos e um serrote, para se virar com os eucaliptos”, conta Artemio Modtkowski, tradutor com dois livros publicados sobre a história da cidade.

Em 1944, a localidade, outrora chamada de Rio Marcelino, Treze de Maio e Princesa Isabel ganhou o nome de Vila Áurea, em homenagem à princesa que assinou a lei que aboliu a escravatura no país. Além do idioma, a cidade homenageia a Polônia batizando sua praça de João Paulo 2º, papa polonês falecido em 2005 e canonizado em 2014.

O município também elege sua corte de rainhas e princesas da imigração polonesa, tem grupos de dança polaca e celebra, no início de junho e do frio invernal, a Festa da Czarnina, um prato típico. É uma sopa quente que usa sangue de pato como caldo, devidamente temperado com vinagre e especiarias.

O museu do município, João Modtkowski, abriga, desde 1951, objetos, documentos, imagens e outras relíquias da imigração.