Massacre do Carandiru: a invasão da Tropa de Choque

Segundo fontes da época, a maioria dos policias estavam apavorados, diziam que os presidiários tinham armas e principalmente seringas com sangue infectado com vírus HIV. Do outro lado, os detentos esperavam pelo pior, sabiam que não podiam enfrentar aquele grande arsenal. Para dificultar a entrada da tropa, armaram uma barricada no pátio. Jogaram óleo de cozinha nos degraus. Ainda assim, esperavam que os PMs não invadissem. Enquanto o diretor do presídio conversava via megafone com os presos, o então secretário de Segurança Pública Pedro Campos retransmitia ao coronel Ubiratan a ordem do então governador Luiz Antônio Fleury (PMDB), que no momento almoçava na cidade de Sorocaba, interior paulista. “Vocês tem autorização do governador Fleury para entrar”. Pedrosa foi atropelado pelos PMs. Ali começava a maior operação em presídios da história brasileira.

Logo após os primeiros passos, os PMs escorregam. Era o óleo jogado pelos presos horas antes. O horário certo da entrada é por volta das 16h20. De acordo com a Revista Já, na edição publicada em 27 de setembro de 1998, um gritou ecoou pelo Pavilhão 9: “Aqui é a morte! Preparem-se para morrer!” A partir daí rajadas de metralhadora foram ouvidas; gritos de ambos os lados. Alguns presos aguardavam nus, era uma forma de não mostrar resistência. Os que ainda ficavam no corredor eram exterminados a base de chumbo que saia do cano dos revólveres. Os PMs adentravam nas celas; ordenavam aos detentos que se deitassem no chão, a essa altura, úmidos pela água que vazava do quebra – quebra e pelo sangue que jorrava das feridas provocadas pelas balas, cortes de faca e mordidas dos cães.
Com a falta de notícias, parentes de detentos e os PMs preteridos da ação in loco entravam em confronto a todo instante na Avenida Cruzeiro do Sul. Já na parte de dentro quem havia escapado das balas, das mordidas dos cães e de sessões de espancamento no corredor polonês era obrigado a carregar os feridos para a enfermaria e os cadáveres para o grêmio recreativo; faltou espaço. Às 17h a operação dentro do Pavilhão 9 está encerrada. Não há mais focos de incêndio ou qualquer tipo de rebeldia.
