Fã de Lenin e Che, Marcelo diz ter ideais do MTST e sonha com a casa própria

O sol das 10h é forte na região do Jardim Ângela, talvez por ser um lugar alto, a incidência dos raios parece ser mais desgastadora. Dez Reais não se incomoda, sem camisa, quer nos mostrar casa à casa que foi ou que está sendo montada no terreno de terra batida no Parque do Lago, no extremo Sul da capital. Assim que chegamos na parte onde é realizada às assembleias, onde se pode ver uma boa parte sem moradias e mais à frente um palco montado de madeira, ele nos conta sobre a existência de um lago, ou na sua fala, “nosso ponto de lazer”.

assambleiaJunto a Eduardo Viveiros, doutor em sociologia política, rumo à Rua da Paz, que faz parte do G16 (grupo 16), o mesmo ponto onde a maioria das pessoas que pegou o ônibus na Ponte do Socorro em direção ao Jardim Ângela moram. Na trilha até a lagoa, ainda há poucas habitações, algumas sendo construídas, como três que são levantadas por três amigos que vieram do Valo Velho, no Capão Redondo, vizinho pelo lado leste do terreno. Bruno, um promotor de vendas de 28 anos, Douglas, também de 28 anos, instalador de insulfilme em carros e o pedreiro Wendel, de 33 anos, dizem pagar aluguel, e estão na tentativa de obter algo próprio. A partir daquele momento, já conseguiram obter um espaço no G20.

Na metade da trilha já podemos avistar alguns pontos da lagoa, mas chegar até lá, ainda temos que passar por afunilamento e uma encruzilhada, que é de onde sai a bica com água límpida, que muitos usam para beber. Após passarmos por uma cerca, chegamos ao riacho, onde algumas famílias se banham e se refrescam do forte calor.DSCF0847

Sentado ao lado da esposa Zinha, que trabalha como diarista, e dos amigos Katilene, recepcionista de 22 anos, e do encarregado de produção Geovane, de 25, está Marcelo André, um motorista de 37 anos, coordenador do G9. Muito articulado, Marcelo quer saber um pouco mais sobre o que faz a equipe de reportagem do Infodiretas estar ali. Com a conversa iniciada, o líder de um ponto da ocupação Nova Palestina começa a discursar sobre suas convicções. “Sou admirador do Leninismo, de Che Guevara, Fidel Castro, Stalin, do comunismo, assim da revolução em geral”. Sobre sua participação no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ele sintetiza que se realiza em poder participar das atividades.

Indagado sobre algumas questões que se divergem sobre o movimento, como de que algumas pessoas quando chegam às ocupações, têm carros, ele complementa. “A questão não é o carro, a questão é moradia. O sistema induz e ajuda a pessoa a ter um automóvel”.DSCF0859 “Nossa luta na verdade é por moradia digna. Ninguém quer morar em caixa de fósforo. Necessitamos uma prestação que seja justa ao bolso do trabalhador”. “Já tentei na Caixa [Econômica Federal] um financiamento para a obtenção de um terreno ou casa própria, mas a burocracia e os empecilhos são tantos que atrapalharam o financiamento”. E finaliza, “o autônomo que não consegue prestar garantia, é praticamente impossível obter crédito”.