Dez Reais, um brasileiro que está para “passar conhecimento” na ocupação Nova Palestina

Assim que subimos no ônibus no Metrô Praça da Árvore, liguei para o coordenador geral e porta-voz da ocupação Nova Palestina Zezito Alves, que através do telefone ia nos informando como estava a região da manifestação. No Largo do Socorro, quando subiu uma boa parte de quem estava no ato em nosso ônibus, para nossa surpresa, lá está Zezito, que nos acompanha até a entrada da ocupação.

Como Zezito iria para uma reunião em outro lugar, nos apresentou V., de 44 anos, conhecido por todos ali como Dez Reais.

DSCF0808Cabelo crespo amarrado, unha do dedinho da mão pintada em vermelho, e porte atlético, este é Dez Reais, nosso guia numa cidade chamada Nova Palestina, que está inserida no bairro Parque do Lago, na região do Jardim Ângela. Nosso primeiro ponto é a cozinha geral, que está bem na entrada da ocupação, o Grupo 1, no alto da Rua Clamecy. Após conhecermos dona Edna, uma liderança local, seguimos por entre pequenos espaços, são as vielas que separam um barraco do outro. Após caminhar por um emaranhado de lonas seguradas por pedaços de bambu, estamos no G2. Logo depois, G3, G4, G5 e suas respectivas cozinhas. Depois de 20 minutos, entramos na “Rua da Paz”, inserida bem no meio das tendas do G16. Dez Reais está eufórico em nos mostrar a bica de água límpida e a lagoa que existe no local.DSCF0836

Antes, explica que é proibido cozinhar dentro das tendas, apenas na cozinha, isto ajuda a afastar a possibilidade de incêndio. Além disso, apenas camas e sofás estão permitidos nesta primeira fase do acampamento. Ouvir rádio ou assistir TV, apenas nas dependências da cozinha.

DSCF0857No meio do caminho, mais socializado com a equipe de reportagem do Infodiretas, Dez Reais começa a contar sua história de vida. E que história! Vindo da ocupação Estaiadinha, que ficava sob à Ponte Governador Orestes Quércia, na região do Bom Retiro, ele disse que conseguiu seu benefício, e por isso está na ocupação Nova Palestina “para passar conhecimento”. De presença relevante, até chegarmos à bica, que realmente emana água limpa e ao pequeno lago, parte fundo, parte raso, Dez Reais é cumprimentado por muitas pessoas. DSCF0857

DSCF0857DSCF0857DSCF0857À vontade, assim que chegamos ao lago, Dez Reais solta a vasta cabelereira, ao melhor estilo do cantor Morais Moreira e pula no riacho, que tem uma coloração marrom. Após se divertir por quase meia-hora, com o sol do meio-dia a pino, pegamos de volta à trilha de terra batida e grama rala e vamos até o último G, o 21, que está bem no alto do terreno particular.DSCF0857

Após mais uma série de acenos e cumprimentos, voltamos ao G1 por uma trilha maior, desta vez, não voltamos pelas pequenas vielas, mas sim pela “rua principal”. Ao chegar a seu barraco, que tem a bandeira do Brasil presa à porta, Dez Reais não deixa seu lado animado e articulado de lado, mas cai em lágrimas ao falar da família. “Nasci em Governador Valadares [Minas Gerais], como vim a pé para São Paulo, demorei 16 dias para chegar. Tenho profissão, mas assim que cheguei fui dormir em baixo do Viaduto Bresser, na ZL. Me envolvi com o crack. Hoje estou limpo. Faz três anos que não vejo ou falo com meu filhos e família. Família é tudo cara”.

No relógio bate 13h, temos que voltar à redação para passar as fotos e elaborar os diversos textos que podemos produzir. Tomo um copa d’água gelado na cozinha geral, me despeço da carinhosa dona Edna, dou um abraço em Dez Reais e descemos a ladeira da Rua Clamecy, onde pegamos o Jardim Ângela.

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